sábado, dezembro 30, 2006

disse


Larissa Grandi

nunca mais.
e nunca mais tem a força mortal
do tempo.

eugênia fortes

quinta-feira, dezembro 28, 2006

miragens


Foto: Bina Engel

kevin sande

Naqueles momentos, a aventura tentava-me, o amor metia-me medo. Mas também me atemorizava a aventura, porque por detrás podia esperar-me o amor.

Gonzalo Torrente Ballester

quarta-feira, dezembro 27, 2006

O ESQUECIMENTO


Nicola Feldman

na outra margem da noite
o amor é possível

— leva-me —

leva-me entre as doces substâncias
que morrem cada dia na tua memória

Alejandra Pizarnik

terça-feira, dezembro 26, 2006


Bina Engel

...de ti

e da íntima chama de um fogo
que não consente extinção;
de ti e de mim fazer um só acorde,
um acorde só; para não te perder.

Eugénio de Andrade, Os sulcos da sede

sábado, dezembro 23, 2006


Evgeniy Shaman

Deixo-me ir com o que escreves. Cavalgo umas frases que soltas ao acaso, que me caem nos olhos vindas das tuas mãos e antes delas não se sabe bem de onde, talvez de passados estrangeiros de ti. Apanho esses teus bocados à deriva como se fossem meus, como se eu neles ainda existisse...

um amor atrevido

sexta-feira, dezembro 22, 2006



Hoje aviso-te
que ficarei para sempre
arquejando no teu corpo...
...
Só o teu coração saberá
se é
promessa ou ameaça,
mas ficarei para sempre
e basta.

Lourdes Espínola

quinta-feira, dezembro 21, 2006



...fala-me de mim e de ti, se nos sentarmos nas dunas.

Francisco José Viegas

quarta-feira, dezembro 20, 2006


Jaeda De Walt

Sem te tocar
vives-me nas mãos...

Nelson d'Aires

terça-feira, dezembro 19, 2006

Ponto de Vista


babka

Foi bom,
Disse ele,
No sussurro da despedida.

Bom?
Pensou ela,
Triste e murcha.

Foi maravilhoso,
Desgraçado

Lúcia Kouri

segunda-feira, dezembro 18, 2006


Allan Jenkins

Toca-me, conjuga um verbo que conheças
no presente do indicativo, soletra-o na segunda pessoa
do singular ao meu ouvido, dá-me qualquer coisa
que me pareça eterno.

José Rui Teixeira

Andrey Sminrnof

Nunca te esqueci – é este um amor maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz

do tempo.

Maria do Rosário Pedreira

domingo, dezembro 17, 2006

AGORA DIZ-ME


Fima Gelman

...agora diz-me:
o que fizeste com a memória de nós?

maria josé quintela , aqui

sábado, dezembro 16, 2006


Velislava Georgieva

Hoje contei
cento e dezoito vidas diferentes,
todas possíveis em meu mesmo corpo.
Todas vivi um pouco ou quase nada,
e o que sobrou foi essa miscelânea
de indecisões e dúvidas crescentes.

Salete Aguiar

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Que importa
que ignores minha sede
se tua miragem
é água cristalina.
E a miragem eu firo com mil línguas
e cada uma é um pássaro
a bebê-la.
Ferroam a minha pele
escorpiões de fogo e sol
com seu veneno
e vejo,
magoada de desejo,
os grãos tão leves
indo embora ao vento.

Micheliny Verunschk

quinta-feira, dezembro 14, 2006


Sweetcharade

…não tenho queixas,

não tenho ódios,
tenho saudades.

um coração temerário,
um corpo vivo,
sangue, vermelho, nas veias.
hei de criar minha história,
vive-la, gota a gota.

gritem os rancorosos,
eles terão fel por memória.
e a vida de vazio absoluto.

eu, sempre terei olhos de mar.

silvia chueire

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Enleio


Carla Salgueiro

Não sei se volteio

Se rodopio
Se quebro

Se tombo nesta queda
em que passeio

Não sei se a vertigem
em que me afundo
é este precipício em que me enleio

Não sei se cair assim me quebra... Me esmago ou sobrevivo
em busca deste anseio

Maria Teresa Horta

segunda-feira, dezembro 11, 2006


Anita W. Lande

Sabes, ainda aqui estou, nesta esquina onde um dia prometeste que me surpreenderias. Mantenho-me de pé, indiferente aos gracejos de pedra das soleiras das portas, aos perigos acrescidos do buraco do ozono e ao adornar dos algerozes, que vão deixando cair os restos da invernia.

(...)

Ainda aqui estou, nesta esquina onde sabes que te espero .


Roubado aqui

quinta-feira, dezembro 07, 2006

absoluta


Nuno Estrela

é essa tempestade
que não vem
que se arma oculta
sobre nós
ano após ano

essa tempestade
que dorme comigo
que mora em meu ventre
ansioso
dia após dia

não quer a tempestade
se precipitar de vez
se desatar no céu
um laço de ferro
sobre a terra
invertida

é essa tempestade
que não vem

Cristina Garcia Lopes

quarta-feira, dezembro 06, 2006


scarletohara

...

tu chegavas de tão longe que eu não te podia tocar
como se viesses de um sonho ou de uma mentira
o teu corpo era cruel como o nevoeiro
e onde ardia o amor eu era apenas um corpo

Pedro Sena-Lino

terça-feira, dezembro 05, 2006

medo


Nicola Ranaldi

Na solidão
não há perigo,
eu sei,

mas como me isolar
de meus demônios?

Salete Aguiar

sábado, dezembro 02, 2006

corpo e alma


Peter Erber

sinto-te sendo em mim
tronco
raízes
e ramos

tocas-me
e eu torno-me leito de rio
sem quedas
nem pedras

quero-te em mim
como seiva
alma
destino

maria josé quintela (aqui)

quarta-feira, novembro 29, 2006


edyta pilichochovka

Leva-me contigo

Não interessa para onde
Nem o como
Ou o porquê.
Leva-me contigo
Afasta-me de mim
Para que não me parta
Aos pedaços

Encandescente

segunda-feira, novembro 27, 2006


Carla Salgueiro

-como farei para saberes que não penso em ti!?


Soares Feitosa

sábado, novembro 25, 2006

Lamparina



Agora que escurece, impregnam-me
a carne os sucos da memória, essa memória
que, pela sua força unicamente,
a ergue entre os destroços e a alumia
como uma lamparina
onde as lembranças fossem o azeite.


Luís Miguel Nava

sexta-feira, novembro 24, 2006


Jaeda De Walt

O coração era meu. Um território que queimava o resto do corpo. Pássaros eram os olhos dele. E tudo o que eu queria era que aqueles olhos nunca mais se desviassem dos meus. E que alimentassem eternamente aquela chama que me fazia saltar de nuvem em nuvem.

Muito tempo se passou até que eu descobrisse que outros pássaros podiam alimentar outras chamas. Porque o coração quer dos pássaros as asas. E com elas, construir novos sonhos.

aqui

quarta-feira, novembro 22, 2006

Fogo Posto



Quero pedir-te um favor:
recolhe as minhas palavras
e faz um monte com elas,
ateia o fogo em redor
até que brilhem estrelas.
E sem olhar para trás,
vira as costas à fogueira
e não as vejas arder.
Se disso não fores capaz,
corres risco de cegueira
e a alma vai-te doer!

Maria José Quintela

terça-feira, novembro 21, 2006

naufrágio


Darren Holmes

naufraguei nas tuas costas

ó país dos desalentos.

perdi-me nas tuas águas
a tempestade a varrer-me
o corpo em ascendido movimento

soube assim da crueldade do tempo
da inutilidade das palavras

silvia chueire

domingo, novembro 19, 2006


Lilya Corneli

...formar el gesto del reencuentro y arrepentirse.
No poder con el miedo,
la cobardía,
el temor al sonido de la voz.
Huir como ciervo asustado del propio corazón,
vociferando un nombre en el silencio
y hacer ruido,
llenarse de otras voces,
sólo para seguirnos desgarrando
y aumentar el espanto
de haber perdido el cielo para siempre.

Gioconda Belli

sexta-feira, novembro 17, 2006

Xeque-mate


Agnieszka Uzi

Eu sinto

Não minto
Transmito.

Tu sentes
Ou mentes?...
Omites.

Eu insisto.
Tu resistes.
Eu desisto...

Maria José Quintela

quinta-feira, novembro 16, 2006

Assim


edyta pilichochovka

É sempre noite dentro
que os teus silêncios
chamam por mim
e é assim
que te espero
assim te quero
assim
quando me rendo
por fim


Ana Vidal

quarta-feira, novembro 15, 2006


Cig Harvey

Julgamos que nos libertamos dos lugares que deixamos para trás de nós.
Mas o tempo não é o espaço e é o passado que está diante de nós. Deixá-lo não nos distancia. Todos os dias vamos ao encontro daquilo de que fugimos.

Pascal Quignard (Vida Secreta)

terça-feira, novembro 14, 2006



...tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

Natália Correia

segunda-feira, novembro 13, 2006

O teu silêncio cresce


Lilya Corneli

O teu silêncio cresce
e o que resta são murmúrios de ausência
neste espaço que se veste de mágoa

António Sem

domingo, novembro 12, 2006



Disseste: se alguém pensa que possui alguém, engana-se. Só se possuem aqueles que guardamos na memória. O resto é pura ilusão.

Eu não disse:
São aqueles que guardamos na memória que nos possuem…

Maria José Quintela (Um olhar não basta)


David Ho

Mi nostalgia ha pintado tu perfil wagneriano
sobre el velo tremendo de la ausencia...

Delmira Agustini

sexta-feira, novembro 10, 2006


Lilya Corneli

...quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

Florbela Espanca

quinta-feira, novembro 09, 2006


Loic Peoch

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

Isabel Meyrelles

Coração


Derek

Coração que a toda a hora se incendeia,
ardendo de impaciência,
não se acomoda à ideia
da ausência.

Coração insensato, coração
lançado à praia e devolvido ao mar,
misturando paixão
e medo de naufragar.

Coração que me guia
até um dia.

Torquato da Luz

quarta-feira, novembro 08, 2006

Hieróglifo


edyta pilichochovka

Na pedra da alma
gravo a cifra
do que sinto:
sou a um só tempo
o alvo
o caçador
e o arco tenso,
estendido.

Micheliny Verunschk

Erro


Johan Hellstan

Edifiquei minha

casa sobre a
areia

Todo dia recomeço

Eunice Arruda

Advise to women


Arranjai gatos
se quereis aprender a lidar
com a diferença dos amantes.
A diferença nem sempre é negligência
Os gatos regressam às suas caixas de areias
quando precisam
....
Esse olhar de perpétua surpresa
nesses enormes olhos verdes
ensinar-vos-á
a morrer sozinhas.

Eunice de Sousa

terça-feira, novembro 07, 2006


Darren Holmes

Há no fundo da memória inscrições antigas que o tempo se encarregou de esconder atrás de nós.
Para nos preservar da loucura. Para nos dar o benefício da dúvida.

Maria José Quintela

segunda-feira, novembro 06, 2006


Katarzyna Widmanska

Tudo o que aprendi de outras viagens, de nada me serve agora. Terei que aprender tudo outra vez. O olhar. A pele. A voz. O corpo.
Nunca me poderia ter preparado para ti. Porque tu nunca foste sequer uma suspeita.
Vieste sem te chamar. De mansinho. De surpresa. E ficaste tão perto que ocupaste a minha pele.


(…) Mas ainda não conheço o rosto do medo que nos afasta.


Maria José Quintela, Um olhar não basta

domingo, novembro 05, 2006

Pequeña muerte


Lia Costa Carvalho

Fue una pequeña muerte
tu partida.
Una muerte pequeña que me crece
cuando imagino
a veces que estás cerca
y me obstino en dar vueltas
por las calles
y regreso a mi casa
con la lluvia
cayendo
y me asalta tu voz
en la noche
sin horas.

Claribel Alegria

sábado, novembro 04, 2006


Lilya Corneli

Não nos libertamos de uma coisa evitando-a, mas só passando através dela.

Cesare Pavese (Ofício de Viver)

quinta-feira, novembro 02, 2006


edyta pilichochovka

queria morrer contigo
não queria morrer de ti ...

...e ainda é tão tarde para que morramos os dois

Pedro Sena-Lino

quarta-feira, novembro 01, 2006

virando a vida


sophie thouvenin

passei tanto tempo colecionando suas ausências que acabei juntando seus pontos, vírgulas e reticências ao meu enorme acervo de solidão.
quando, porém, minha caixa de preciosidades ficou insuportavelmente cheia, joguei tudo fora: ele, minha dor e seus silêncios.
resolvida a questão, recomecei do zero.


Mariza Lourenço, aqui

segunda-feira, outubro 30, 2006


James Parbleu

...Vem até cá: conversamos um bocadinho o amor que deixámos por fazer, relembramos os parágrafos que nos deslassaram os abraços ferozes e soletramos os beijos que não demos.
Partilhemos a vontade ociosa de sermos melhores do que aquilo em que nos tornámos.

Um amor atrevido

sexta-feira, outubro 27, 2006


Ralf Herrmann

"... em cada tempo, há uma forma de olhar e aquilo que vivemos não está no mundo, está na maneira como olhávamos para ele."


António Alçada Baptista (O Tecido do Outono)

quinta-feira, outubro 26, 2006

¿Cómo volver a recapturar el tiempo?


Jonathan Kane

¿Cómo volver a recapturar el tiempo?

¿Interponerle el cuerpo fuerte del deseo y la angustia,
hacerlo retroceder acobardado
por nuestra inquebrantable decisión?

Pero... quién sabe si podremos recapturar el momento
que perdimos.

Nadie puede predecir el pasado
cuando ya quizás no somos los mismos,
cuando ya quizás hemos olvidado
el nombre de la calle
donde
alguna vez
pudimos
encontrarnos.

Gioconda Belli