quarta-feira, setembro 27, 2006

O Piano



Decifra-me.
Se me queres,
tenta-me.
Há portas que estão
apenas aparentemente
fechadas. Abre-as.
Uma delas dá acesso a
uma sala e dentro dela
há um piano. Entra.
E toca-me.
Se teus dedos produzirem
música, terás
me aprendido.

Nalú Nogueira

terça-feira, setembro 26, 2006


Christian Harkness

O meu passaporte

são as tuas mãos; o mapa que nos guia,
a respiração incerta do desejo. «Por
isso me perco», dizes. «Por isso te
encontro», respondo. E a noite que
nos separa é o dia que nos reúne.

Nuno Júdice aqui

segunda-feira, setembro 25, 2006

Sortilégio


Paulo Bénard Guedes

Primeira estrela que eu vejo,
dai-me tudo o que eu desejo.
Se o cachorro latir, ele me ama.
Se a bicicleta passar, ele me odeia.
Se a porta bater, ele está pensando em mim.

Fecho os olhos.

Silvana Guimarães

domingo, setembro 24, 2006

das marés


Gerhardt Thompson

és maré-viva de setembro
numa atracção de sol com lua
que me arrasta contra a maré num cais
a que me acosto e amarro nuas as cordas

daniel

sábado, setembro 23, 2006

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...

Oswaldo Montenegro

quarta-feira, setembro 20, 2006

hoje


Rita Isabel

hoje alguma coisa se perdeu
como a chuva que a terra bebeu
solene silêncio
do velho relógio parado
lençóis sobre móveis imaginários

hoje entrou o meio-dia e o fim de tarde
o tempo esgarçou as horas
amordaçou palavras
enterrou estrelas no fundo do mar

Andrea Augusto





sábado, setembro 16, 2006

Sonho


Larissa Grandi

Sonhei o teu corpo ao acordar,
Acho que dormi contigo nas mãos.

Encandescente

sexta-feira, setembro 15, 2006


Man Ray

Sofro pelas mulheres de bronze
que não sentiram
a torturante ausência
do amor
porque vazia foi
a vida e não viveram.


Sofro por todas elas.
Aquelas que não choraram,
aquelas que não sofreram,
aquelas que não gozaram,
aquelas que não, e não, e não.

Regine Limaverde, “Mulheres”

quinta-feira, setembro 14, 2006

Exortação...


Clicio Barroso

Não deixes o cansaço instalar-se
em vez disso
silenciosamente
como um pássaro
estende a mão ao milagre

Hilde Domin

quarta-feira, setembro 13, 2006

Encostar na tua



Eu quero te roubar pra mim
Eu que não sei pedir nada
Meu caminho é meio perdido
Mas que perder seja o melhor destino

Agora não vou mais mudar
Minha procura por si só
Já era o que eu queria achar
Quando você chama meu nome
Eu que também não sei aonde estou
Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for

Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

Que saiba que forte eu sei chegar
Mesmo se eu perder o rumo
Mas saiba que forte eu sei chegar
Se for preciso eu sumo

Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

Ana Carolina

terça-feira, setembro 12, 2006

Amor


Derek

Bêbado da luz pálida dos teus olhos,
esvazio ainda o teu copo; e voltas a enchê-lo,
sabendo que é inesgotável esta sede!

Nuno Júdice

segunda-feira, setembro 11, 2006


Cristye

... nessa hora, quantas

palavras
trocaram esses amantes que o passado
vestiu com o seu manto de memória... Como se a manhã
não chegasse, trazendo a separação que corrói
a pele da alma, e prende toda a esperança a uma ilusão
de saudade. Porque lhe resistes?, pergunto. Em que
vazio afogarás este amor que insiste em respirar, como
se não soubesses que nada o substitui? Não
te enganes, como não se engana esse deus cego às concessões
do presente, voando para os espaços mais inacessíveis,
e levando no bater das asas o mais fundo
dos abraços.

Segue esse voo com o impulso antigo; e
não percas o sabor desse filtro que os nossos lábios
trocaram, no mais solitário dos instantes.

Nuno Júdice

sexta-feira, setembro 08, 2006

Não a alma


Lutz Behnke

-Não me toques a alma.
E ele que já a conhecia inteira, que já a tocara toda, que já lhe seguira nos pés as marcas deixadas pelas calçadas que ela pisara, que já lhe sentira nas pernas o cansaço dos caminhos percorridos e que lhe deixavam os músculos rígidos e tensos e que ele tocava e massajava até ficarem moles e lassos e distendidos. Ele que já lhe abrira as coxas e com os dedos as acariciara, e as percorrera, e as olhara e as desejara, e deitara o rosto no ventre liso e vira as gotas de suor que desciam pelo peito, e paravam no umbigo, e dele transbordavam e ele abria a boca e bebia-as….

- Não me toques a alma.
E ele com medo de perguntar o porquê. Ele que a segurava pelas nádegas e a encostava ao sexo e a encaixava no sexo, e ela ondulava e ele ondulava, e ele embalava-a os dentes mordendo-lhe o ombro, e ela mordendo os lábios, e os dois mordendo-se e dando-se boca, dentes e gemidos….

-Não me toques a alma.
E ele que já a beijara, que já a lambera, que já bebera dela suor, que já provara dela o orgasmo, que já sentira na boca o palpitar do coração enquanto lhe mordia o peito e lhe prendia os mamilos entre os lábios e os sugava devagar, e ela se contorcia e lhe dava o corpo e ele queria a alma e ela dizia:

- Não me toques a alma, assim poderás sempre partir. Assim poderei sempre não voltar.

Encandescente

quinta-feira, setembro 07, 2006


Meghan McBee

Cruel como partir
é dividir da tua a minha pele...

Rosa Lobato Faria

segunda-feira, setembro 04, 2006



Os teus dedos escorrendo como leite
como mel como chuva como sumo...

...que sede que silêncio que sonata
que saudade de sermos sempre assim...

Rosa Lobato Faria

domingo, setembro 03, 2006


Graça

...calo meu olhar

e guardo a noite
por dentro
sonho:
enfim te encontro


Virgínia Schall