sábado, junho 30, 2007


Velislava Georgieva

Podia continuar assim para sempre. A escrever sobre o que não vivi, o que não tive, o que perdi: um tratado sobre o desencontro, a incompletude, o extemporâneo.

...
Podia continuar assim, bela eterna sem senão, um pássaro na mão, coração quente, amor para sempre, a palavras de prata, difíceis como bilros, sem silêncios de ouro. A acarinhar-te a lembrança a tratos de polé, com mil cuidados e caldos de galinha, amor querido, amor batido. Podia continuar assim para sempre. Afinal, há mil maneiras de morrer.

mais um texto roubado aqui

segunda-feira, junho 25, 2007


Samantha Wolov

errámos nas praias e nos portos. e sempre o amor se fez revolto. sempre o chegar
a ti violento, ou o chegar a mim inquieto.
era como se não pudesse ser de outra forma, como se para ser bom tivesse que ser difícil.
e por ser difícil parecia ser tão melhor.

Cláudia Caetano

quinta-feira, junho 21, 2007

surdina



Para que nem tudo vos seja sonegado,
cultivai a surdina.
Eu fico em surdina.
...
em surdina me preparo
para morrer.
Amo, chut!, em surdina:
a minha vida,
nesga entre dois ponteiros,
fecha-se
em surdina.

Sebastião Alba

quarta-feira, junho 20, 2007


sophie thouvenin

...afasta do meu rosto a tua vã promessa. deixa
que seja brando o sono sem lembrança,
um chão de terra nua.
do teu jardim de chamas me despeço.

António Franco Alexandre

sábado, junho 16, 2007


Jaeda De Walt

a braços com o tempo disse:

é cedo ainda. muito cedo ainda para atar as mãos. por isso te peço que me devolvas os braços que ficaram atrás das tuas costas, presos no 'para sempre' - que não existe, dizias tu.

...

devolve-me os braços e eu digo 'nunca mais'. nunca mais digas que são pequenos os meus braços, porque eles são dois e servem para mais que mil abraços. agitam-se impacientes em viagens preguiçosas enquanto não me agarras para dançar.

e é com a verdade nos braços que te digo:

devolve-me os braços que te dei dia sim, dia talvez não.

devolve-me os braços, que preciso deles para dizer adeus.

joana, aqui

quarta-feira, junho 13, 2007

foste tão pouco meu


Yuri Bonder

...foste tão pouco meu como o sol, na sua última curvatura roxa antes de desaparecer na linha do horizonte, uma linha que parecia desenhada por um miúdo a régua e esquadro lá longe, só para que soubéssemos que há coisas inultrapassáveis, como a pressão do oceano, as paredes de corais e os dias seguintes.

um amor atrevido, aqui

terça-feira, junho 12, 2007

Um Dos Capítulos


Graphic


Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.

Albano Martins

quinta-feira, junho 07, 2007


scarlet ohara

Se uma pausa não é fim
e silêncio nâo é ausência,
se um ramo partido não mata uma árvore,
um amor que é perdido,será acabado?



Ana Hatherly

segunda-feira, junho 04, 2007


Estela Rivero


Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas...

e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate.

José Tolentino de Mendonça

sexta-feira, junho 01, 2007


Paul Grant Cutright0

Nas tuas mãos
ardia
barco de espuma
rede

das tuas mãos escorria
língua de fogo
sede

nas tuas mãos
sentia
dobra do vento
febre

nas tuas mãos
tremia
nome da vida
tempo

Paula Tavares