sábado, dezembro 31, 2005













FELIZ ANO NOVO!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Monólogo












...Amei-te na palavra
que não disse
amei-te no silêncio
...
Como saber de nós?
...
Amei-te na palavra
ignorada e só:

o que não basta

Ana Luisa Amaral

domingo, dezembro 25, 2005

Persona












Minha alma feminina
é tão antiga
como o cheiro da terra
que a chuva molha
perfume milenar
essência almiscarada
que em muito mais de mil noites
arde à espera.

Virgínia Schall

sábado, dezembro 24, 2005


















UM FELIZ NATAL!...

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Prazer e êxtase









O prazer se
faz em êxtase:
quando o
meu corpo,
feito água,
descobre
todos os
caminhos
do seu.E deixa-se
ficar
onde você
mergulha em
mim

Stela Fonseca

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Colada à tua boca a minha desordem


















Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Hilda Hilst

Poder


















tens o poder de trazer ao dia
a música do meu corpo.
a música dos nossos corpos
debruçados um sobre o outro
e sobre as horas,
a cidade,
o vento.

tens nas tuas mãos fluidas
o poder que mal sabes,
de alterar as marés
que me atravessam.

silvia chueire

terça-feira, dezembro 20, 2005

Jura


















minha boca sopra no vento: eu te
amo eu te amo

uma navalha corta em dois meu coração

CACASO

Tu Nombre


















Trato de escribir en la oscuridad tu nombre. Trato de escribir que te amo. Trato de decir a oscuras esto. No quiero que nadie se entere, que nadie me mire a las tres de la mañana paseando de un lado a otro de la estancia, loco, lleno de ti, enamorado. Iluminado, ciego, lleno de ti, derramándote. Digo tu nombre con todo el silencio de la noche, lo grita mi corazón amordazado. Repito tu nombre, vuelvo a decirlo, lo digo incansablemente, y estoy seguro que habrá de amanecer.

Jaime Sabines


















Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Camões

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Diz










...
Diz-me do amor as palavras mais absurdas
Se mas disseres na boca
Serão todas elas verdades.

Encandescente

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Grave













grave tua voz
me acaricia

e afogada nela
minha alma
se abandona

entoa o canto
que cavalga,
amazona.

eugênia fortes

terça-feira, dezembro 13, 2005


















Eu sei quando te amo:
é quando com teu corpo eu me confundo,
não apenas nesta mistura de massa e forma,
mas quando na tua alma eu me introduzo
e sinto que meu sangue corre em ti,
e tudo que é teu corpo
não é que um corpo meu
que se alongou de mim.
Eu sei quando te amo:
é quando eu te apalpo e não te sinto,
e sinto que a mim mesmo então me abraço,
a mim que amo e sou um duplo,
eu mesmo
e o corpo teu pulsando em mim.

Affonso Romano de Sant'Anna

domingo, dezembro 11, 2005














Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.

Manuel Alegre, Sete Sonetos e um Quarto

Lo Innominado


















Lo sabíamos ambos,
por eso era superfluo repetirlo -también eso sabíamos-,
aunque a veces la noche se encarnizara en darnos
las palabras más bellas, por si acaso crecían.
Esas veces que faltaba un mal minuto
para que hubiese chispas rodando por el suelo,
y había que apartar los ojos, y amarrarse
los lazos casi sueltos de la triste cordura.
Porque también sabíamos que era cosa de locos,
desvarío extremado (aunque, sí, delicioso)
y que era necesario extirparlo de golpe,
o sacarle los ojos, o cortarle las manos,
para que no salies
a la luz y mostrase
su inocencia perfecta, que no iba a entender nadie.

Josefa Parra

sexta-feira, dezembro 09, 2005














No amor também as palavras
são necessárias. Os gestos talvez não bastem.
Nem a chuva lá fora enquanto o amor se inflama.
Nem o sussurro nas árvores quando os corpos serenam.
Nem a melopeia das águas quando as bocas se esmagam.
Nem o fulgor dos olhos quando a paixão se impacienta.

Penso no amor e logo invento palavras
e logo as palavras se põem ébrias.
Penso no amor e logo as palavras
se soltam como fogosas aves
a que não pergunto o rumo.
Penso no amor e logo preciso
que as palavras digam
que amor é este em que penso e em que grito.

Fernando Namora

nas mãos













tenho nas mãos o mar
que me ilumina os olhos,
a memória do corpo
a sulcar a água,
da água a navegar-me a pele.

o desejo de ti
a caminhar por mim ontem
como se fosse hoje.

silvia chueire

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Foi um beijo...


















foi um beijo onde não importava a boca
só tuas mãos quentes me apertando pelas costas
nada estava acontecendo na minha frente
e a ansiedade que havia não era pouca
teus dedos perguntavam pra minha blusa
se meu corpo acolheria um delinqüente
descoladas as línguas um instante
minha resposta saiu um tanto rouca

Martha Medeiros

terça-feira, dezembro 06, 2005


















Amália Ruiz encontrou a paixão da sua vida no corpo e na voz de um homem proibido. Durante mais de um ano viu-o chegar febril à beira da sua saia, que saía voando depois de um abraço. Não falavam muito, conheciam-se como se tivessem nascido no mesmo quarto, e um simples roçar dos seus agasalhos causava-lhes estremecimentos e ditas. O resto saía-lhes dos seus corpos felizes com tanta facilidade que, pouco tempo depois de se encontrarem, no quarto dos seus amores soava a Sinfonia Pastoral e cheirava a perfume como se Coco Chanel o tivesse inventado.

Aquela glória mantinha as suas vidas suspensas e convertia a sua morte num impossível. Por isso eram belos como um feitiço e promissórios como uma fantasia.

Até que, numa noite de Outubro, o amante da tia Meli chegou ao encontro atrasado e a falar de negócios. Ela deixou-se beijar sem paixão e sentiu o hálito da habituação devastando-lhe a boca. Guardou para si as censuras, mas saiu a correr para casa e nunca mais quis saber daquele amor.

Quando o impossível se quer transformar em rotina, é preciso abandoná-lo – Explicou à irmã, que não era capaz de entender uma atitude tão radical. – não podemos embarcar na história de ambicionar uma coisa proibida, de a possuir às vezes como uma bênção, de a desejar sobretudo por isso, por ser impossível, desesperada, e de um momento para o outro vê-la converter-se no anexo de um escritório.
Não posso permiti-lo, não vou permiti-lo. Seja por amor de Deus que algo tem de proibido e por isso é abençoado.

Mulheres de olhos grandes, Angeles Mastretta

domingo, dezembro 04, 2005

Limites do amor

















O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant’Anna

Rubro Toque



















eram teus olhos
despudorados
subindo pelas minhas pernas

rubro toque intuído

no silêncio úmido
de nossas bocas...


Andrea Augusto

quarta-feira, novembro 30, 2005



















não me arrependo das horas que perdi a esperar-te quando ainda havia a esperança. a esperança que havia ainda quando, a esperar-te, perdi horas de que não me arrependo.

José Luís Peixoto


terça-feira, novembro 29, 2005















Não digo que te amei por ter possuído o teu corpo, mas sim por ter roçado a tua alma. Se pudesse estar apenas perto de ti, a ouvir a tua voz e a demorar o meu olhar sobre o teu, ter-te-ia amado na mesma... Fiquei presa no que está para lá do visível; enredada entre as folhas da tua verdadeira essência.

Possidónio Cachapa

segunda-feira, novembro 28, 2005

Reflexos


















Olho-te pelo reflexo
Do vidro
E o coração da noite

E o meu desejo de ti
São lágrimas por dentro,
Tão doídas e fundas
Que se não fosse:

o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.


Ana Luísa Amaral




sábado, novembro 26, 2005

Se tu me esqueces


















Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal,
o ramo rubro do lento Outono
em minha janela,
se toco junto ao fogo
a implacável cinza ou
o enrugado corpo da madeira,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz , metais,
fossem pequenos barcos que navegam para estas tuas ilhas
que me aguardam.


Pois, ora, se pouco a pouco
deixas de me amar,
de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente me esqueces, não me procures,
já te esqueci também.


Pablo Neruda

O amor e o mar












Para chegar a ti tropecei muitas vezes.
noites inteiras a pronunciar um nome, e era o teu.
Noites inteiras a acariciar um corpo, e era o teu.
Anos e anos a arrancar com paciência as penas de uma ave
para caminhar sem rumo até uma porta
sem saber que tu eras essa porta.

O antigo silêncio que ainda me fala entre as ondas.

Eduardo Chirinos

terça-feira, novembro 22, 2005


















Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia
como o aroma entre os tendões da madeira fria.
És uma faca cravada na minha vida secreta.

Herberto Helder

segunda-feira, novembro 21, 2005

Legenda
















Nada garante que tu existas.
Näo acredito que tu existas.

Só necessito que tu existas.

David Mouräo Ferreira

Amei-te













Amei-te com os olhos
o espelho doido dos olhos
e a sede inextinguível da boca

Amei-te com a pele
as pernas e os pés
e todos os gritos que trago
por debaixo da roupa.

Amei-te com as mãos
as mesmas com que te digo adeus.

Rosa L. F.

sábado, novembro 19, 2005


















Vou partir
Como se fosses tu que me abandonasses

Al Berto

segunda-feira, novembro 14, 2005


















Estás partindo de mim
e eu pressinto que me partes,
e partindo, em ti me vais levando,
como eu que fico
e em mim vou te criando.
Tanto mais tu me despedes
e te alongas,
tanto mais em mim vou te buscando
e me alongando,
tanto mais em mim vou te compondo
e com a lembrança de teu ser
me conformando.

Estás partindo de mim
e eu pressinto
na verdade, há muito que partias,
há muito que eu consinto
que tu partas como um mito...

Affonso Romano de Sant'Anna


domingo, novembro 13, 2005













Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto

sábado, novembro 12, 2005

Respostas













Com quem dormiste?
-Dormi com uma mulher diferente em cada noite.
Com quem dormiste?
-Dormi sozinho. Dormi sempre sozinho.

Porque me mentes?
-Sempre pensei que te dizia a verdade.
Porque me mentes?
-Porque a verdade mente como nenhuma outra e eu amo a verdade.
Porque partes?
-Porque nada significa já muito para mim.
Porque partes?
-Näo sei. Nunca soube.
Quanto tempo deverei esperar por ti?
-Näo esperes por mim. Estou cansado e quero descansar.
Estás cansado e queres descansar?
-Sim, estou cansado e quero descansar.

Paul Strand


sexta-feira, novembro 11, 2005













Transformo-me nas coisas que tocaste,
crescem-me seios com que te alimente
o coração demente e mal fingido;
depois serei a forma que deixaste
gravada a lume com sabor a cio
na carícia de um gesto fugidio.

António Franco Alexandre

quinta-feira, novembro 10, 2005

A noite


















À altura de todas as estrelas
coloco as mãos para tocar o vento.
A lua é um fascínio que deixa atónito
o meu corpo, e lhe dá um cheiro
de fêmea fecundada; um fogo posto
a deixar um luar, pleno, detido nos meus olhos.
(...)
Um tango exausto sobe-me pelas pernas.
Há, na minha boca, uma rua silenciosa,
por onde se chega à fragilidade dos lábios.

Graça Pires

terça-feira, novembro 08, 2005

Pergunta-me


















Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto













De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia












não te pergunto de onde chegas?,
porque sei para onde vais.
hoje é a hora exacta em que até o vento
até os pássaros desistem.
e a noite a teus pés é um instante
e um destino.

não te pergunto onde está o teu rosto,
tantas vezes ocluso e pisado sob os ramos,
onde está o teu rosto?
nem te peço que incendeies o teu nome
numa nuvem nocturna,
nem te procuro.

és tu que me encontras.
ficas no rio que passa,
nada de um tempo que não existe,
nem correntes, nem pedra, nem musgo.
nem silêncio.

José Luís Peixoto

domingo, novembro 06, 2005













Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, novembro 02, 2005

Jurar


















um homem jura com seu corpo,
sua vida,o amor por uma mulher.
prega suas palavras naquele corpo
até que se torne campo ,flores ,
frutos,oceano , sussurros.

um homem jura com suas palavras,
e suas palavras são sua fortuna.
jura com seus olhos,
até que o amor trespasse sua vida
e ela seja seu destino desvendado.

um homem jura a si mesmo,
até que acredita.

silvia chueire

Discurso sobre a felicidade














" Disse que quanto mais a nossa felicidade depender de nós, mais a teremos garantida; e, todavia, a paixão, que pode proporcionar-nos os maiores prazeres e tornar-nos mais felizes, coloca a nossa felicidade inteiramente sobre a dependência dos outros..."

Madame du Chatelêt

terça-feira, novembro 01, 2005

A Voz


















Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido

os dedos que me
vogam
nos cabelos

e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...

Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...

Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.

Maria Teresa Horta

segunda-feira, outubro 31, 2005













Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

Hilda Hilst

domingo, outubro 30, 2005

Sem ti


















Sou chama
aquela
que não precisou da fricção de dois gravetos
para arder

Eliana Mora

sexta-feira, outubro 28, 2005














(...)
Morro do meu corpo e do teu corpo,
de nossa morte, amor, morro, morremos
no poço do amor a todas as horas,
inconsolável, aos gritos,
dentro de mim, quero dizer, te chamo,
te chamam os que nascem, os que vêm
de trás, de ti, os que a ti chegam.
Nos morremos, amor, e nada fazemos
senão morrermos mais, hora após hora,
e escrevermos e falarmos e morrermos.

Jaime Sabines


quarta-feira, outubro 26, 2005

Não é que morra de amor, morro de ti










Morro de ti, amor, de amor de ti,
da urgência da minha pele de ti,
da minha alma de ti e da minha boca
e do insuportável que sou sem ti.

Jaime Sabines

terça-feira, outubro 25, 2005

Sede



















beber-te-ia
depositados os lábios na borda de cristal
em goles lentos
a canção a ressoar no corpo

beber-te-ia
nas pernas desordenadas do tempo
hoje ontem
amanhã

silvia chueire

segunda-feira, outubro 24, 2005

Rilkeana













De ti e desta nuvem; desta nuvem
branca como voo de pássaro
em manhã de abril; de ti
e da íntima chama de um fogo
que não consente extinção;
de ti e de mim fazer um só acorde,
um acorde só; para não te perder.

Eugénio de Andrade, Os sulcos da sede








Há uma mulher de musgo nas minhas pálpebras
e outra que se esconde nos olhos e é a mesma
há uma mulher de música
no meu sorriso
há uma mulher de tristeza como o tempo
nas águas das minhas mãos

Há tantas mulheres no meu corpo
e tantas quantas todas são uma só
ou nenhuma
ou nenhuma
e é a mesma que caminha contra o vento
em qualquer rua

António Ramos Rosa















Que dizer da borboleta
que pousa
de ramo em ramo? Talvez ela
não saiba
que os meus olhos a vêem
voar no vento.
Talvez saiba.
Casimiro de Brito