quinta-feira, agosto 31, 2006

espero


Konrad Gös

espero o teu olhar colado

ao meu desejo .
espero a chama das palavras
e a tua voz a morrer
quando me chamas:
vem...

silvia chueire

terça-feira, agosto 29, 2006

Sonho


olikja

Não sei se as tuas mãos me tocaram

Tão leves as tuas mãos que nenhuma marca ficou
Tão leves que certamente só me sonharam
Ou as sonhei porque as queria na minha pele
Árida de carícias
Ávida das tuas mãos.
Não sei se foste tu que escreveste com saliva poemas no meu corpo
Poemas rios que me molharam e segredaram
Palavras por ti nunca antes ditas
Não sei se senti rios e pensei poemas
Deserta que estava de palavras e saliva.
Não sei se no meu corpo o teu mora
Tão ténue teu corpo
Tão breve sonhar.

encandescente

segunda-feira, agosto 28, 2006


sweetcharade

Tantos anos depois
Não faz mesmo sentido
Mas guardo ainda o espelho
Onde espreito minha sorte,

Onde dia e noite espreito
A sombra que flutua
E se cola
Como máscara, em meu rosto,
Como chaga no coração,
Bem no peito onde o tempo
Enfiou sua adaga.

E danço como nunca mais
Dancei. O rei agora dorme,
Dourado, em seu sarcófago.

Mas ainda tenho os véus,
A bandeja e a espada.

Myriam Fraga

sexta-feira, agosto 25, 2006

Nocturno



...esta noite
arde uma fogueira de nostalgia
e o mistério absorvente da tua luz
entra em mim mansamente

Aqui
longe de ti e de tudo
sinto-me bem dentro de ti
e deixo-me ficar

António Sem

segunda-feira, agosto 21, 2006

Amor


Cig Harvey

Eu penso em ti, ainda mais do que te digo, e tu estás em tudo, mesmo quando não te penso, tu és a grande razão, o horizonte sem nome que constantemente se desenha na minha imaginação de mim.


António Mega Ferreira

sábado, agosto 12, 2006


Ira Bordo

...olhas-me e só tu
sabes: ferros em brasa, fogo,
silêncio e chuva que não se pode
dizer: amor e morte: fingir que está
tudo bem: ter de sorrir: um oceano
que nos queima, um incêndio que
nos afoga.

José Luís Peixoto

quinta-feira, agosto 03, 2006

O poeta inventa viagem, retorno e morre de saudade



Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.


Hilda Hilst

quarta-feira, agosto 02, 2006


Samantha Wolov

...quem disse

que esta dor te pertencia?
Quem pensou que este amor
me perturbava?
Que o longe era mais perto
se fugias
Que o dentro era mais longe
porque estavas?
Quem disse
que este ardor te evidencia?
Quem pensou que esta pena
me cansava?
Que calar era pior
se te despia
Que gritar era pior
se te largava?
Quem disse
que esta paixão me curaria?
Quem pensou
que esta loucura me passava?
Que deixar-te era paz
porque corria
Que querer-te era mau
porque te amava?
Quem disse
que esta paixão te espantaria?
Quem pensou
que esta saudade me rasgava?
Que tudo era diferente
se te via
Que o pior era saber
que aqui não estavas?
Quem disse
que esta ternura te devia?
Quem pensou que este saber
se enganava?
Neste langor crescente
que crescia
Neste entender de nós
que cintilava

Maria Teresa Horta