sexta-feira, fevereiro 24, 2006


Haleh Bryan

Que manso e cego
o nó da tua voz!

Se desatá-lo pudesse
dos meus lábios...

Maria Teresa Horta

quarta-feira, fevereiro 22, 2006



Falta o corpo
falta um nada
falta
a poeira de mim
Falta a hora
falta agora
a falta
que arrebata
Falta um tudo
e sobretudo
falta a unha
falta o toque
retoque
pincel de sonhos
Falta a dor
que não doeu
Falta
sentires a mesma falta
que eu...

Isabel Machado

terça-feira, fevereiro 21, 2006



...és tu quem tem as peças e o tabuleiro
onde nos procuramos, mesmo que já nos tenhamos
encontrado, no abraço em que tudo acaba e começa.

Gosto destes jogos em que já se sabe quem
vai ganhar. Eu ou tu? qual das peças
avançará primeiro? Pouco importa, no fundo. A
minha dúvida nasce da tua certeza, como a
resposta que me dás é esta dúvida que te devolvo.

Nuno Júdice

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Canção desse rumor



Quem - estando ausente - entra no
quarto
Quem deita ao lado meu, quem passa
No meu coração seus lábios quentes, quem
Desperta em mim as feras todas
Quem me rasga e cura
Quem me atrai?


Quem murmura na treva e acende estrelas
Quem me leva em marés de sono e riso
Quem invade meu dia após a noite
Quem vem – estando ausente -

E nunca vai?

Lya Luft


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves

de verão e a tua boca deixou um rasto de canções

Maria do Rosário Pedreira

domingo, fevereiro 19, 2006


Nicola Ranaldi

...Procuro-te

com os dedos da alma no mar obscuro do desejo, como
se não estivesses dentro de mim, para lá
do limite desta página, rompendo a censura das horas - amada
secreta de uma noite, e de todas as noites em que te sonho...

Nuno Júdice

quinta-feira, fevereiro 16, 2006



Nunca te esqueci – é este um amor maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e

o olhar tocava o corpo antes da mão.

Maria do Rosário Pedreira

Que esperas quando me esperas?


ergee

Que esperas quando me esperas?

Espero a parte de mim que contigo ficou
A parte de mim que é chama
A parte de mim que ama
A parte de mim que sou eu.
E nos dias caminho dividido
Esperando encontrar-me e juntar-me
Esperando ser um não metade
Esperando-te
Espero por mim.

encandescente

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Instante













Que seja apenas por um instante,
mas que seja breve e intenso este instante.
Sem regras, a não ser as ilógicas da paixão.
Sem lucidez, mas consciente dessa falta de lucidez.
Sem remorsos, anterior a todo pecado.

Que seja mágico, tenso e profundo
este instante entre os seus braços:
um açoite - luz do sol na vista;
um impulso - salto no abismo infinito;
um momento levitando na memória.
Mas que não dure mais que um instante.

Vem, e me faz esquecer.

Alexandre Inagaki

quinta-feira, fevereiro 09, 2006


Graça Loureiro

Repete comigo : amo-te. Nada mais. Não preciso mais. Apenas

as vozes em uníssono.

E. Fortes

quarta-feira, fevereiro 08, 2006


Haley Bryan

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno

nos dias sem ninguém –longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas.

Maria do Rosário Pedreira


terça-feira, fevereiro 07, 2006

Máscaras


Haleh Bryan

Entre todas las gentes a diario tu rostro
se camufla con gestos comunes. No hay señales
de tus silencios suaves, del temblor de tus labios
debajo de los besos o en la urgencia del sexo.
Máscara de ti mismo, te disfrazas y niegas
el delicado estigma de tu parte más frágil.
Sólo tus ojos siguen, valientes, declarando
la emoción que te vence en la alcoba del agua.

Josefa Parra

domingo, fevereiro 05, 2006


Lilya Corneli

...O meu amor não se deixa dizer- é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos

Maria do Rosário Pedreira

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Amor



Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua?, esse braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente á tua boca,
abre-se a alma à lingua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi facil, nunca,
também a terra morre.

Eugénio de Andrade