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sweetcharade
De cor, do coração da madrugadaevoco a tua pele, poro a poro.Sou uma caravela naufragadaà procura não sei de que tesouro.Toma de novo o leme desta barca.Como num mapa, lê na minha palma.Encontrarás aí a tua marcaa pele, o corpo, a voz, o cheiro, a alma.R. L. Faria
Michele Clementembora
saiba que foi o teu silêncio que me deixou, tenho
pavor de me esquecer da tua voz; e, quando tento
recordar um instante feito só de palavras ditas
ao ouvido, já não encontro nada - nada de nada;
e é como se tivesses morrido dentro do meu corpo.
Maria do Rosário Pedreira
Darren HolmesQuero dizer-teque sobre ele pairaram sempre brumas e nevoeirose profecias de temporais maiores, como os que levampara longe os corpos dos navios. Não há notíciasdeste amor; apenas uma intriga, um recado sonâmbulo,um temor que desmaia as pregas do vestido e um sortilégiourdido nas paisagens suspensas de um mapa que apertona mão sem desdobrar. E há memórias deste amor? A voz sem as palavras, um livro lidoàs escuras, um bilhete cifrado deixado num hotel,um velho calendário cheio de desencontros? Não,não há memória deste amor.Maria do Rosário Pedreira
Ralf Herrmann
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respirocom a violência de um incêndio; mas partoantes de saber como seria...Maria do Rosário Pedreira
Darren Holmes
Na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores
Só não trarei o resto
da ternura em resto desta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo:
quando a quiseres -
Ana Luisa Amaral
Black-StilettoE é sem dúvida amor todo este jogoÉ sem dúvida Amor Mas de repenteé sem dúvida Amor e não é nada...David Mourão Ferreira
Yenda
Só me debato Sei que não voopor entre as grades que tens no peito...Ah não te iludas se te perdooNão me acredites se te rejeitoDavid Mourão Ferreira
vladimir
No es amor, no es amor
el estremecimiento que me ofreces,
la dependencia dócil del deseo,
no es amor.
La piel de transparente se hace alma
que el sudor cristaliza, puramente
transfigurada; pero es sólo el tiempo
que tarda ese tirano de tu cuerpo
en hacerse notar en estampida.
No es amor, lo conozco; yo no sé
qué cosa sea, pero no es amor.
Josefa Parra
Philippe Pache...daqui a nada estou na estalagem nos braços dele, um perder de vista de água prateada, ele chama-me da janela do quarto, diz o meu nome
um susto de que o coração não se esquece, uma bênção de que os olhos não se refazem, as ondas aos nossos pés, a espuma rendada, murmúrios, fecho os olhos por um bocadinho, nenhuma manhã me vai roubar este sonho tão bonito, nunca mais nenhuma manhã, a minha vida um sobressalto no sono continuado do universo, fecho os olhos por um bocadinho, um sono tranquilo, aqui dentro, aqui onde estou, aconteça o que acontecer nada acontece
inesperadamente
Dulce Maria Cardoso
Philippe PacheDeita-te comigo.Ilumina meus vidros.Entre lábios e lábiostoda a música é minha.Eugénio de Andrade
Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado...
Miguel Torga
Quando pela noite chegas dissolvem-se as trevas
e eu partir não quero, porque esta é a noite
que ilumina o dia, canto do silêncio, eco subtil
no discurso do mundo. Quando pela noite chegas
é meu o teu amor, e a morte tarda doce como mel.
Ana Marques Gastão
Rabi KhanVer-nos-emos um dia
náufragos ou cegos
como animais da sombra.
Está escrito...
Ana Marques Gastão
este livro, passa um dedo pela página, sente o papelcomo se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto....pousa os lábios sobre a página, pousa os lábios sobreo papel, devagar, muito devagar, vamos beijar-nos.José Luís Peixoto
Mulher que escondes em teu corpoa alma secreta das paisagens,com o seu fluir de riose seus sucalcos de pura dádiva e bondade.Hoje, meu coração, talvez te reveleque não serás como ela passageira.Qualquer coisa de ti perdurará na verde folhagem destas árvoresque vegetalmente te observame tua música imitam.Porque eu te amo és eterna,vives para além da invalidez do tempo,és polén fecundante que o vento não sonega,pétala de lume a perfumar a brisa desta tarde,Primavera que de ti própria vi brotar.E nos céus antes áridos entoam já suaves sinosanunciando que todos os dias serão agora teus, só porque os fizeste de seda para mim.Gonçalo Salvado(Para ti, mãe.)
Traze-me palavras
e sua cor intensa de paixão.
Sua chama a percorrer-nos alto a baixo.
Essas palavras têm na ponta da língua
um sabor a flores úmidas.
Desabrocham a cada manhã.
Silvia Chueire
Haleh Bryan
Queria-te tão daqui,
num tão longínquo estar,
rasgar-te da memória,
soluçar-te de vento e muito longe
- e esse choro era teu, e só de ti...
Ana Luisa Amaral
Konrad Gös
sinto a tua faltanão sabeso vazio iminentede que eu não a sintasilvia chueire
Ira Bordo
Tu não me pertenceste - e, se uma vez acreditei que
acontecias dentro do meu corpo, das outras vi-te abraçar a
solidão com tanto ardor que concluí ser a memória quem
te mantinha vivo. O meu coração, contudo, sempre
te pertenceu - e a mão desesperada que o procura não
o sente bater longe do teu peito. E mesmo os poemas todos
que escrevi não me pertenceram, porque essa vida
que pulsava no papel levaste-a tu contigo na hora
em que te foste - e a que tenho agora é mais
branca e vazia do que a morte, não é vida nem nada
que eu queira alguma vez que me pertença.
Maria do Rosário Pedreira
sistermoon...
nada me pertenceu - nem o vestido indecente
que pedi emprestado para te oferecer os seios, nem
os seios, que já eram teus muito antes do vestido...
Maria do Rosário Pedreira
Alex Ingran...Somos muitos quando nos separamos,somos dois quando nos encontramos,mas como separar amor e camase formamos um quando nos deitamose se ainda te desejo quando não estás?Thaty Marcondes
Andrey SmirnofQuem pode adivinhar
que conhecer-te assim
é doloroso e frágil?
ágil
este constante perder-te
sem jamais possuir
a tua imagem...
Maria Teresa Horta
hoje podes rasgar
cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. Eu não me
importo com nada do que me digas esta
noite: amo-te, e amar-te é reconhecer o
pólen excessivo das corolas, o seu vermelho
impossível. Mas amanhã, antes de partires,
não digas nada, não me beijes nas costas
do meu sono. Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes.
Maria do Rosário Pedreira