terça-feira, julho 25, 2006

uma coisa que não haja

Perguntavam-lhe o que queria: um sumo, um refrigerante, um leite com chocolate, uma água. A tudo a criança dizia que não, cada vez mais desesperada. Acabou por se explicar, gritando: "Eu quero uma coisa que não haja!"
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A criança que grita para que a deixem querer uma coisa que não haja é a musa de todos os livros, a musa de todos os desejos que circulam em nós, pedindo apenas a graça de continuar em movimento, para lá da contínua desilusão das felicidades alcançadas. Um olhar, o brilho do sol sobre a mão que mergulha no mar, o nome que escrevemos na areia molhada da nossa memória, a página marcada no poema que outra mão escreveu, com o nosso sangue, num outro tempo que se funde com o nosso: o Verão traz sempre de volta a inocência vertiginosa do desejo e recorda-nos a nossa mais profunda felicidade, que é essa de nos entregarmos a uma coisa que não haja. Mesmo ou sobretudo quando pensamos que já nada mais pode haver. O desejo pensa-nos melhor que nós.

Inês Pedrosa

3 comentários:

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