quarta-feira, março 09, 2005


Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda afeição de um arbusto isolado,
abstracto o olhar, entregue à delícia de um sonho.

O Vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
e tanto penso em ti, ó meu ausente amado!
que te sinto no Vento e a ele, feliz, me exponho.

Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me toda nua...
– sou árvore a oscilar, meus cabelos são tranças...

E não podes saber do meu gozo violento,
quando me fico assim, neste ermo, toda nua,
completamente exposta à Volúpia do Vento!

Gilka Machado

1 comentário:

Anónimo disse...

Ser a atmosfera
que respiras,
conter-te em mim
como numa redoma,
entrar-te pelo olfato,
assim como as aspiras
invisíveis, do aroma...

Ser teu ambiente,
ser teu espaço circundante,
sentindo em mim roçar,
constantemente,
teu gesto palpitante...

Ser o silêncio
em que te enfurnas,
guardar teus
lentos pensamentos,
pelas horas noturnas...

Ser o teu sono,
sentir-te assim
como ninguém te sente
- abandonado
completamente
completamente esquecido
em mim...

Oh! meu prazer!
- sentir-te
e penetrar-te;
- em toda hora,
em toda parte,
gozar teu ser!
Sem que
o pudesses perceber;
- ser por ti absorvida;
- encher com minha vida
a tua vida