E não poder fugir, não poder fugir nunca, a este destino de dinamitar rochas dentro do peito...
Nas ervasEscalar-te lábio a lábio,percorrer-te: eis a cinturao lume breve entre as nádegase o ventre, o peito, o dorsodescer aos flancos, enterraros olhos na pedra frescados teus olhos,entregar-me poro a poroao furor da tua boca,esquecer a mão errantena festa ou na frestaaberta à doce penetraçãodas águas duras,respirar como quem tropeçano escuro, gritaràs portas da alegria,da solidão.porque é terrivelsubir assim às hastes da loucura,do fogo descer à neve.abandonar-me agoranas ervas ao orvalho -a glande leve.Eugénio de Andrade (VR)
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Nas ervas
Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar
os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.
porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.
Eugénio de Andrade
(VR)
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