Sou chama aquela que não precisou da fricção de dois gravetos para arder
Eliana Mora
sexta-feira, outubro 28, 2005
(...) Morro do meu corpo e do teu corpo, de nossa morte, amor, morro, morremos no poço do amor a todas as horas, inconsolável, aos gritos, dentro de mim, quero dizer, te chamo, te chamam os que nascem, os que vêm de trás, de ti, os que a ti chegam. Nos morremos, amor, e nada fazemos senão morrermos mais, hora após hora, e escrevermos e falarmos e morrermos. Jaime Sabines
De ti e desta nuvem; desta nuvem branca como voo de pássaro em manhã de abril; de ti e da íntima chama de um fogo que não consente extinção; de ti e de mim fazer um só acorde, um acorde só; para não te perder.
Eugénio de Andrade, Os sulcos da sede
Há uma mulher de musgo nas minhas pálpebras e outra que se esconde nos olhos e é a mesma há uma mulher de música no meu sorriso há uma mulher de tristeza como o tempo nas águas das minhas mãos Há tantas mulheres no meu corpo e tantas quantas todas são uma só ou nenhuma ou nenhuma e é a mesma que caminha contra o vento em qualquer rua António Ramos Rosa
Uma folha tomba do plátano, um frémito sacode o imo do cipreste, És tu que me chamas. Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos, És tu que me fitas. Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me atraem, És tu que me queres. De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro, És tu que me penetras. Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta-o a vertigem obscura
Ela está de pé nas minhas pálpebras Com os seus cabelos nos meus entrelaçados, Ela tem a forma das minhas mãos, Ela tem a cor dos meus olhos, E desaparece na minha sombra Como uma pedra sobre o sol. Ela tem sempre os olhos abertos E não me deixa dormir. Os sonhos dela à luz do dia Fazem os sóis evaporar-se, Fazem-me rir, chorar e rir, Falar sem ter nada para dizer. Paul Éluard
"Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...
(...)
E que a minha loucura seja perdoada, Porque metade de mim é amor, e a outra metade... também..."
tenho um corpo vivo, de palavras e contornos, um murmúrio perdido no tempo.
um corpo que anseia o oceano, a foz.
tenho um corpo que não se cala ainda que eu silencie.
tenho uma canção no corpo, devia ser para ti.
silvia chueire
quinta-feira, outubro 13, 2005
...Mas o preço que pago para te ter é ter-te apenas quando puder ver-te e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Ruy Belo
quarta-feira, outubro 12, 2005
O amor também se faz com a alma, almas encostadas uma à outra, com os seus aneis erógenos, a sua aflição, o seu desassossego. Casimiro de Brito, Da Frágil Sabedoria
segunda-feira, outubro 10, 2005
Que pena. Éramos uma invenção Tão boa e amável. Um aeroplano feito de um homem e de uma mulher. Com asas e tudo. Pairávamos ligeiramente por cima da terra. Até voávamos um pouco.
Yehuda Amichai
domingo, outubro 09, 2005
Por sorte andas bem longe, lá por fora, já me esqueci de ti completamente. É mais fácil assim, saber-te ausente, corre mais fina a vida junto à morte. ... Entre os meus dedos fica o lugar oco onde tão certo deixo esse postal ilustrado do teu esquecimento. António Franco Alexandre
sexta-feira, outubro 07, 2005
O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Miguel Esteves Cardoso Encontrado aqui
~ Ontem é uma pedra que atiro ao espelho Nos dias em que sobrevivo À imposição da tua ausência. José Rui Teixeira
terça-feira, outubro 04, 2005
Pelas ruas da cidade, vai o meu amor. Pouco importa, aonde vá no tempo dividido. Já não é o meu amor: qualquer um lhe pode falar. Já nem sequer se lembra, quem foi que o amou, E o ilumina de longe para que não caia! René Char
sábado, outubro 01, 2005
Eu eras tu! Como podemos então não morrer de amor pela parte que nosso ser já viu a nú? Nesse tempo em que por tanto amar tu e eu fôramos um. Amélia Vieira
Vem de longe a tua voz. De tão longe que duvido de mim mesma ao ouvi-la. Será que te ouço ou será a mim mesma que escuto? Serão minhas as palavras que murmuras, serei ainda eu? Ou serão apenas ecos do amor que fui, que foste um dia?