...entra como quem arde no centro do fogo ...entra devagar no centro do fogo
e
lavra-me
Alice Vieira
sábado, dezembro 13, 2008
Sistermoon
fica comigo peço mas tu não me ouves e eu sei que vou voltar a esperar por ti na vida que me resta e em todas as vidas e em todas as mortes até ao dia em que definitivamente despeças o teu corpo do meu e eu repita fica comigo e tu desapareças
Alice Vieira
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Vernon Trent
Corpo de mil bocas, e todas fulvas de alegria, todas para sorver, todas para morder até que um grito irrompa das entranhas, e suba às torres, e suplique um punhal. Corpo para entregar às lágrimas. Corpo para morrer.
Corpo para beber até ao fim - meu oceano breve e branco, minha secreta embarcação, meu vento favorável, minha vária, sempre incerta navegação. Eugénio de Andrade
terça-feira, dezembro 09, 2008
Barbara Taurua
...Cuando llegaste estaba escrito entre tus ojos el final. Hoy he olvidado ya tus ojos y tengo ganas de llorar.
Antonio Gala, Poemas de Amor
quinta-feira, dezembro 04, 2008
MARIAH Falo contigo: e tu ouves-me, não me ouvindo, como eu te ouço sem saber se é o que eu quero ouvir que vem das tuas frases, ou se dizes o contrário do que sentes para que eu sinta a verdade do que nenhum de nós sente … Como se o amor acabasse no meio do que não começou; ou a distância pudesse apagar o que não tem fim.
Nuno Júdice, A Cartografia de Emoções
terça-feira, dezembro 02, 2008
...que fizemos ao tempo de morrer com uma mão na nossa mão?
...e assim me solto como um barco. sem a rede protectora das palavras. o silêncio ao leme a falar como um oráculo. e eu no vício insano de decifrar sinais.
há silêncios que me protegem e silêncios que me atormentam. outros há que me crescem rente à pele. tão desmedidamente que se ouvem. como rios fecundos em noites brancas. afagos insaciados.
Conta-mo outra vez, é tão formoso que não me canso nunca de escutá-lo. Repete-mo de novo, os dois da história foram felizes até vir a morte, ela não foi infiel, ele nem se lembrou de enganá-la. E não esqueças,apesar do tempo e dos problemas, todas as noites sempre se beijavam. Conta-mo mil vezes, se faz favor: é a história mais bela que conheço.
...é verdade o sonho poderá ter feito com que, nesta rarefacção de ambos, a tua presença se impusesse - como se cada gesto do poema te restituisse um corpo que sinto ao dizer o teu nome,confundindo os teus lábios com o rebordo desta chávena de café já frio. Então, bebo-o de um trago o mesmo se pode fazer ao amor, quando entre mim e ti se instalou todo este espaço -terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo que o inverno rouba à transparência das fontes. É isto, porém, que faz com que a solidão não seja mais do que um lugar comum saber que existes, aí, e estar contigo mesmo que só o silêncio me responda quando, uma vez mais te chamo.
Nuno Júdice
terça-feira, outubro 28, 2008
MARIAH
Poiso a cabeça sobre a mão direita e penso: para o encontrar de novo recomeçaria tudo outra vez, andaria todos os caminhos, arriscaria a minha vida. Hora após hora, ele regressa ao meu pensamento, e vem do lugar de todas as ausências, e tem nos braços a mesma curva onde os pássaros iniciam o primeiro voo. Pedir-lhe-ia, agora, que só uma vez me dissesse: bebe a minha sede.
Beija-me Sobre a areia fria, húmida do mar, No sal da espuma alada Que afaga de onda em onda os nossos pés, No cintilar das estrelas álgidas, solitárias na noite, Sobre os ossos lisos de corpos esfacelados e sangrentos. Ajuda-me a lutar, Envolve-me em teus braços E deixa-me chorar a minha solidão E a tua.
Pior do que a solidão pura e simples, a solidão dos ascetas ou dos insanos, (a mansa solidão, torre de êxtase e prece- ou a áspera solidão que aterra e que apavora,)
é esta povoada pelo fantasma de um amor que havemos de carregar pelos anos afora...
havia apenas o mar nos olhos, uma vaga aflição e a espera amorosamente tecida nas canções,
quando a lâmina tirou-lhe a voz da garganta e o oceano do peito. de um só golpe decepou-lhe a
realidade e o sonho.
todas as justificativas para a dor são injustificadas quando o amor é óbvio e olha com olhos de
esperança. recapitulados os dias perfeitos, impecáveis, indescritíveis dias de fascínio, nada mudou.
como se um furacão de acontecimentos não a tivesse surpreendido.
"entre as quatro paredes do meu peito, só eu sei. só eu sei o que espero e o que desespero", foi a
única pista rara vez sussurrada a alguém.
no mais, permanece sentada à mesma janela de sempre. diz coisas incompreensíveis vez em
quando. lê um livro.ouve música. olha em torno como se acordasse do sono, entoa alguma canção
qualquer, vai e volta, sorri, diz às pessoas coisas gentis, prováveis. mas permanece lá, nas noites
inquietas, a conversar com ele que já não está. a espera, o desespero, raramente visíveis.
na sala, no quarto, no corpo, em todo lado os sinais da vida desfeita, que só ela sabe.
silvia chueire
segunda-feira, maio 26, 2008
Joanna Nowakowska
“Há palavras que nasceram para serem ditas.Mesmo que não queiramos, nos tapem a boca e nos desliguem os sentidos. Elas gatinham até à ponta da língua, agarram-se aos lábios, lutam desesperadamente com a porta trancada a sete chaves, mas acabam por ver a luz do dia. Não há nada a fazer.”
M.A.
quinta-feira, maio 22, 2008
Bogdan Jarocki
Dentro do meu sono ainda me perturba a tua imagem, miragem do meu deserto vencido, demora da minha espera...
E a achar normal e previsível que o telefone não toque, as notícias não cheguem e que a vida continue apesar de. Aprende-se a viver com isto, com o teu ectoplasma quase colado à minha pele, sem teres para onde fugir nem parede para a qual te virares, quando dispo as minhas flanelas e entro na noite de rompão, fingindo que não é para ti que fico nua no escuro.
Paulo Cesar ... Despi-me... vê se me queres, Despi-me com impudor, Que é irmão do desespero. Vê se me queres, Sabendo que te não quero, Nem te mereço, Nem mereço ser amado Pela pior Das mulheres... Poderás amar-me assim, (como explicar-me?!) Por qualquer cousa que eu for, Mas não por mim! Não a mim...! José Régio
Bogdan Jarocki Ligas-me, e eu não atendo, poupo-te ao embaraço e ao inferno das explicações, aos olás de circunstância, deixo que toques e toques e que vás por fim parar às mensagens. Ligas-me, e eu espero, desejo e espero, que despejes para um gravador o teu erro, o teu tédio, o teu gozo, os pedidos, as desculpas, as incríveis novidades do mundo ou, quem sabe, a precisão dos beijos empoeirados que esqueceste e deixaste em mim.
Era demasiado amor. Demasiado grande, demasiado confuso e arriscado, e fecundo, e doloroso. Tanto quanto eu podia dar, mas mais do que me convinha. Por isso se desmoronou. Não se esgotou, nem se acabou, nem morreu, desmoronou-se apenas, veio abaixo como uma torre demasiado alta, como uma aposta demasiado alta, como uma esperança demasiado alta.
Quando a lua vier tocar-me o rosto terás partido do meu leito e aquele que procurar a marca dos teus passos encontra urtigas crescendo por sobre o teu nome.
Vem de longe a tua voz. De tão longe que duvido de mim mesma ao ouvi-la. Será que te ouço ou será a mim mesma que escuto? Serão minhas as palavras que murmuras, serei ainda eu? Ou serão apenas ecos do amor que fui, que foste um dia?