A criança Peixes I
Olho vivo e ouvido atento,
Aninhar-se-ão amorosamente perto.
Num País de Maravilhas estão
Sonhando enquanto os dias correm,
Sonhando enquanto os Verões morrem.
A maioria dos bebés, como toda a gente sabe, veio de Paris. Alguns foram transportados naquela fralda enorme, pendurados no bico da cegonha ou foram transportados para o hospital na mala preta do médico. Mas não a sua trouxazinha Peixes. Essa veio directamente do país das fadas, agarrada a um raio de luar. Se olhar bem, ainda pode ver o reflexo de duendes e árvores de desejos mágicos nos seus olhinhos sonhadores, talvez até um traço de pó de estrelas atrás da orelha esquerda. As asas podem ter desaparecido quando ele chega à sala de partos, mas ficou provavelmente um pequeno alto no sítio em que estavam presas.
Você conhece aqueles cartões de felicidades para mães, com imagens de bebés cheios de covinhas, pintados de rosa e branco, frágeis e diáfanos, voando por cima do verso. O artista usou o seu bebé Peixes como modelo. Isto pode fazê-la pensar que pode controlar completamente o seu filho de Neptuno, ou que depois de lhe ter lavado aquele brilhante pó de estrelas das orelhas, pode moldá-lo como quiser. Por que não, se ele é um pedacinho de argila tão suave e delicado? Pense melhor. Ele conseguirá o que quer, tão seguramente como o bebé Carneiro de faces encarnadas e aos gritos ou o pequeno bebé Touro obstinado e rijo. A única diferença é que ele o conseguirá seduzindo-a completamente, e afogando-a em oceanos de sorrisos doces e modos cativantes.
Linda Goodman
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Discurso sobre a felicidade
O grande segredo para que o amor não nos torne infelizes é procurar nunca agir em falso para com o nosso amante, nunca demonstrar-lhe ardor quando ele se torna frio e ser sempre um grau mais fria que ele; isso não o trará de volta, porém nada o traria de volta: a única coisa a fazer é esquecer quem deixa de amar-nos.
Madame de Châtelet
Madame de Châtelet
domingo, fevereiro 27, 2005
Não sei
Se te criei não sei
nem se te quero assim
nem se é de ti que falo imagem que contemplo ou imagino
ou falo só de mim
Na floresta de lume quero ver bem e despegar-te
de mim mesmo e definir-te e definir-me e entender
onde este mudo apelo acaba e principia
Saber enfim não mais esperar-te ou inventar-te ou modelar-te
serena turva imagem destes dias sem destino
deles mesmos tecida em morte ou recomeço
E apenas sei
que em teus olhos sem cor feitos de magoa e de mudança
luz um país que não se vê e onde me vejo
e ao meu desejo inda para lá de todo o desespero e toda a
esperança
num outro eu amanhecendo
Apenas sei que não sei
que é tempo de me ver para não te ver E cego só entendo
que neste halo a que me rendo ou eu mesmo entreteço
só não me vendo deixaria
de ver-te aqui de minhas mãos nascendo
Mário Dionísio
nem se te quero assim
nem se é de ti que falo imagem que contemplo ou imagino
ou falo só de mim
Na floresta de lume quero ver bem e despegar-te
de mim mesmo e definir-te e definir-me e entender
onde este mudo apelo acaba e principia
Saber enfim não mais esperar-te ou inventar-te ou modelar-te
serena turva imagem destes dias sem destino
deles mesmos tecida em morte ou recomeço
E apenas sei
que em teus olhos sem cor feitos de magoa e de mudança
luz um país que não se vê e onde me vejo
e ao meu desejo inda para lá de todo o desespero e toda a
esperança
num outro eu amanhecendo
Apenas sei que não sei
que é tempo de me ver para não te ver E cego só entendo
que neste halo a que me rendo ou eu mesmo entreteço
só não me vendo deixaria
de ver-te aqui de minhas mãos nascendo
Mário Dionísio
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Noites e mais noites
Dias inúteis
Ficarão perdidos os dias
que não tivemos juntos. Dias inúteis
encostados a paredes e muros envelhecidos.
Dias sem calendário,
horas evasivas e fugidias, desperdiçadas,
afundadas em rios sem margens nem pontes,
noites, noites e mais noites deitadas fora
como casas desabitadas.
Carlos Lopes Pires
Ficarão perdidos os dias
que não tivemos juntos. Dias inúteis
encostados a paredes e muros envelhecidos.
Dias sem calendário,
horas evasivas e fugidias, desperdiçadas,
afundadas em rios sem margens nem pontes,
noites, noites e mais noites deitadas fora
como casas desabitadas.
Carlos Lopes Pires
Prelúdios
Porque sou de terra
preciso de chuva
e para ser verde
de ti tenho sede
Ó meu amor
faz-me ouvir, apenas
Sê tu a minha boca
O orvalho desta rosa
encarnada
que sou
quando me desfolhas
e enlanguesces
é a húmida certeza
que te dou
do prazer que em mim teces
E por estar densa e húmida
plena de amor e alegria
explodi humedecendo
o largo corpo do dia
Maria de Lourdes Hortas
preciso de chuva
e para ser verde
de ti tenho sede
Ó meu amor
faz-me ouvir, apenas
Sê tu a minha boca
O orvalho desta rosa
encarnada
que sou
quando me desfolhas
e enlanguesces
é a húmida certeza
que te dou
do prazer que em mim teces
E por estar densa e húmida
plena de amor e alegria
explodi humedecendo
o largo corpo do dia
Maria de Lourdes Hortas
Madrigal
Tu já tinhas um nome e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.
Eugénio de Andrade
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Era preciso que fosse amor
“... Não conseguia dizer a si própria que se deve, ou que se pode, passar ao lado de uma paixão. Uma paixão era como uma vida: tinha de ser vivida. Porque todos eles morriam. Iam morrer todos mais depressa do que julgavam. Quem lhes agradeceria o facto de não terem alimentado o ímpeto e o ardor, a doçura e a cobiça? Morriam. Os segredos seriam levados para as sepulturas. Os tormentos, apagados. Como as suas existências pareceriam então irrisórias, e estúpidas as suas angústias!
Na grande nomenclatura das faltas, um segredo de amor tinha a dupla beleza das coisas caladas e dos sentimentos estampilhados. Mas era preciso que fosse amor...”
A Conversa Amorosa , Alice Ferney
Na grande nomenclatura das faltas, um segredo de amor tinha a dupla beleza das coisas caladas e dos sentimentos estampilhados. Mas era preciso que fosse amor...”
A Conversa Amorosa , Alice Ferney
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
"Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio – nem sequer o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de um história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência.”
Inês Pedrosa
Inês Pedrosa
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Contente de me dar como as gaivotas
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida
Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou dum céu que tem gaivotas,
leve o diabo essa morte dia a dia.
Eugénio de Andrade, Os Amantes sem dinheiro
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida
Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou dum céu que tem gaivotas,
leve o diabo essa morte dia a dia.
Eugénio de Andrade, Os Amantes sem dinheiro
domingo, fevereiro 20, 2005
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
Gift
You tell me that silence
is nearer to peace than poems
but if my gift
I brougt you silence
(for I know silence)
you would say
This is not silence
this is another poem
and you would hand it back to me
Leonard Cohen
is nearer to peace than poems
but if my gift
I brougt you silence
(for I know silence)
you would say
This is not silence
this is another poem
and you would hand it back to me
Leonard Cohen
terça-feira, fevereiro 15, 2005
Fazes-me falta
“Fazes-me falta, merda – já te disse?
Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?”
Pedrosa, Inês
Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?”
Pedrosa, Inês
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
The invitation
The Invitation
Não me interessa saber o que fazes para ganhar a vida
quero saber o que desejas ardentemente, se ousas sonhar em atender
aquilo pelo qual o teu coração anseia.
Não me interessa saber a tua idade
quero saber se arriscarás parecer um tolo por amor,
por sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a tua lua
quero saber se tocaste o âmago da tua dor,
se as traições da vida te abriram
ou se te tornaste murcho e fechado por medo de mais dor!
Quero saber se podes suportar a dor, minha ou tua;
sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la.
quero saber se podes aceitar alegria, minha ou tua,
se podes dançar com abandono e deixar que o êxtase te domine
até às pontas dos dedos das mãos e dos pés,
sem nos dizeres para termos cautela, sermos realistas,
ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.
Não me interessa se a história que contas é verdade.
quero saber se consegues desapontar outra pessoa
para ser autêntico contigo mesmo,
se podes suportar a acusação de traição e não traíres a tua alma.
Quero saber se podes ver beleza
mesmo que ela não seja bonita todos os dias,
e se podes buscar a origem da tua vida na presença de Deus,
quero saber se podes viver com o fracasso, teu e meu e ainda,
à margem de um lago, gritar para a lua prateada: “Posso!”
Não me interessa onde moras ou quanto dinheiro tens
quero saber se podes levantar-te após uma noite de sofrimento e desespero,
cansado, ferido até aos ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos.
Não me interessa saber quem és e como vieste parar aqui
quero saber se ficarás comigo no meio do incêndio
e não te acovardarás.
não me interessa saber onde, o quê, ou com quem estudaste
quero saber o que te sustenta a partir de dentro,
quando tudo o mais se desmorona.
quero saber se consegues ficar sozinho contigo mesmo
e se, realmente,
gostas da companhia que tens nos momentos vazios.
Jean Houston, “A passion for the possible”
Não me interessa saber o que fazes para ganhar a vida
quero saber o que desejas ardentemente, se ousas sonhar em atender
aquilo pelo qual o teu coração anseia.
Não me interessa saber a tua idade
quero saber se arriscarás parecer um tolo por amor,
por sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a tua lua
quero saber se tocaste o âmago da tua dor,
se as traições da vida te abriram
ou se te tornaste murcho e fechado por medo de mais dor!
Quero saber se podes suportar a dor, minha ou tua;
sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la.
quero saber se podes aceitar alegria, minha ou tua,
se podes dançar com abandono e deixar que o êxtase te domine
até às pontas dos dedos das mãos e dos pés,
sem nos dizeres para termos cautela, sermos realistas,
ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.
Não me interessa se a história que contas é verdade.
quero saber se consegues desapontar outra pessoa
para ser autêntico contigo mesmo,
se podes suportar a acusação de traição e não traíres a tua alma.
Quero saber se podes ver beleza
mesmo que ela não seja bonita todos os dias,
e se podes buscar a origem da tua vida na presença de Deus,
quero saber se podes viver com o fracasso, teu e meu e ainda,
à margem de um lago, gritar para a lua prateada: “Posso!”
Não me interessa onde moras ou quanto dinheiro tens
quero saber se podes levantar-te após uma noite de sofrimento e desespero,
cansado, ferido até aos ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos.
Não me interessa saber quem és e como vieste parar aqui
quero saber se ficarás comigo no meio do incêndio
e não te acovardarás.
não me interessa saber onde, o quê, ou com quem estudaste
quero saber o que te sustenta a partir de dentro,
quando tudo o mais se desmorona.
quero saber se consegues ficar sozinho contigo mesmo
e se, realmente,
gostas da companhia que tens nos momentos vazios.
Jean Houston, “A passion for the possible”
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
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