E não poder fugir, não poder fugir nunca, a este destino
de dinamitar rochas dentro do peito...
quinta-feira, novembro 27, 2008
Kay
...e assim me solto como um barco. sem a rede protectora das palavras. o silêncio ao leme a falar como um oráculo. e eu no vício insano de decifrar sinais.
há silêncios que me protegem e silêncios que me atormentam. outros há que me crescem rente à pele. tão desmedidamente que se ouvem. como rios fecundos em noites brancas. afagos insaciados.
Conta-mo outra vez, é tão formoso que não me canso nunca de escutá-lo. Repete-mo de novo, os dois da história foram felizes até vir a morte, ela não foi infiel, ele nem se lembrou de enganá-la. E não esqueças,apesar do tempo e dos problemas, todas as noites sempre se beijavam. Conta-mo mil vezes, se faz favor: é a história mais bela que conheço.
...é verdade o sonho poderá ter feito com que, nesta rarefacção de ambos, a tua presença se impusesse - como se cada gesto do poema te restituisse um corpo que sinto ao dizer o teu nome,confundindo os teus lábios com o rebordo desta chávena de café já frio. Então, bebo-o de um trago o mesmo se pode fazer ao amor, quando entre mim e ti se instalou todo este espaço -terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo que o inverno rouba à transparência das fontes. É isto, porém, que faz com que a solidão não seja mais do que um lugar comum saber que existes, aí, e estar contigo mesmo que só o silêncio me responda quando, uma vez mais te chamo.
Vem de longe a tua voz. De tão longe que duvido de mim mesma ao ouvi-la. Será que te ouço ou será a mim mesma que escuto? Serão minhas as palavras que murmuras, serei ainda eu? Ou serão apenas ecos do amor que fui, que foste um dia?