E não poder fugir, não poder fugir nunca, a este destino
de dinamitar rochas dentro do peito...
terça-feira, outubro 28, 2008
MARIAH
Poiso a cabeça sobre a mão direita e penso: para o encontrar de novo recomeçaria tudo outra vez, andaria todos os caminhos, arriscaria a minha vida. Hora após hora, ele regressa ao meu pensamento, e vem do lugar de todas as ausências, e tem nos braços a mesma curva onde os pássaros iniciam o primeiro voo. Pedir-lhe-ia, agora, que só uma vez me dissesse: bebe a minha sede.
Beija-me Sobre a areia fria, húmida do mar, No sal da espuma alada Que afaga de onda em onda os nossos pés, No cintilar das estrelas álgidas, solitárias na noite, Sobre os ossos lisos de corpos esfacelados e sangrentos. Ajuda-me a lutar, Envolve-me em teus braços E deixa-me chorar a minha solidão E a tua.
Pior do que a solidão pura e simples, a solidão dos ascetas ou dos insanos, (a mansa solidão, torre de êxtase e prece- ou a áspera solidão que aterra e que apavora,)
é esta povoada pelo fantasma de um amor que havemos de carregar pelos anos afora...
Vem de longe a tua voz. De tão longe que duvido de mim mesma ao ouvi-la. Será que te ouço ou será a mim mesma que escuto? Serão minhas as palavras que murmuras, serei ainda eu? Ou serão apenas ecos do amor que fui, que foste um dia?